Donovan Mc Dulles
A década de 1990 foi marcada no Brasil pelo boom da cultura
japonesa. Tá bom pode até não ser, mas graças a Rede Manchete o Brasil tomou
conhecimento da cultura nipônica e de vários animes e tokusatsus (filmes ou
série com atores de super-heróis produzidos no Japão) que eram importados de
lá. E isso não só repercutiu muito no país como mudou toda a forma que víamos a
cultura oriental. Tivemos Jaspion, Changeman, Cavaleiros do Zodíaco, Yu Yu Hakusho,
entre outros sucessos. Mas um dos longas metragens mais famosos do outro lado
do mundo não veio para a Manchete.
Lembro de ficar acordado até tarde nas noites de sábado para
assistir a sessão de filmes trash que a Bandeirantes exibia. Antes dela existia
uma sessão de filmes onde cansaram de passar A Lenda do Demônio e Akira. Este
que é uma, senão a melhor, animação japonesa de todos os tempos.
Em Akira, Katsuhiro Otomo criou um mundo Cyberpunk pós apocalíptico
diferente do que tínhamos em mente naquela época. Se você pensar os filmes que
falavam sobre um mundo devastado tinham como principal tema a escassez de água,
falta de tecnologia, falta de combustível e era desértico, como vemos em Mad
Max. Akira por outro lado nos mostrava uma Neo-Tokyo devastada pela terceira
guerra mundial, mas que não tinha perdido sua tecnologia. Temos carros, motos,
armas, entre outros aparatos de ponta. Mas como em toda grande cidade isso não
é para todos. É daí que vem nosso herói Kaneda.
Kaneda e Tetsuo são dois amigos de infância e membros de uma
gangue de motoqueiros que não tem nenhum futuro na vida. O ensino em sua escola
é ruim, os professores não tem poder em sala de aula, os alunos estão lá
meramente para se encontrarem e tramarem guerras nas ruas de Neo-Tokyo. A maior
paixão deles ainda são suas motos. Em uma noite Kaneda e seus amigos partem
para o conflito com uma gangue rival por terem invadido seu território e com
isso tem início uma grande perseguição na cidade. Durante a perseguição vemos o
combate com pedaços de pau, tubos de ferro, socos e pontapés tudo isso em cima das
motos.
Nesse confronto e durante todo o filme vemos a diferença na
animação japonesa que chocou os americanos na época. Algo que eles não estavam
acostumados a ver em um desenho: sangue, morte, atropelamentos, corrupção,
confrontos políticos. Tudo isso aliado a uma animação tão boa que até hoje
deixa muitas no chinelo. Akira fez história e causou reboliço e se tornou um
filme cult, fazendo as animações da década seguinte se espelharem nele.
Outro ponto forte de Akira é a trilha sonora. Como era de se
esperar para a década, marcada por sintetizadores, a trilha foi composta por
uma mescla de vozes humanas, instrumentos étnicos e sintetizadores. O
compositor Shoji Yamashiro não teve acesso ao roteiro e nem viu nenhum trecho
do filme e mesmo assim conseguiu fazer uma trilha que soasse com uma provável realidade
de 2019, época em que se passa o filme.
Akira foi um filme grandioso, seu orçamento chegou na casa
dos US$ 10 milhões, um recorde para um longa de animação da época. Apesar de todo
o sucesso obtido, uma continuação nunca foi planejada, mas na década de 1990 a
Sony ainda cogitou uma versão em live action, mas largou de mão quando seu
orçamento estava previsto em torno de US$ 300 milhões. Já em 2008 a Warner
Bros. adquiriu os direitos autorais do mangá e desde então tenta fazer uma
versão com atores. Até o ator Garrett Hedlund (Tron o Legado) e o diretor Jaume
Collet-Serra (A Casa de Cera de 2005 e A Órfã de 2009) já foram cotados para o
projeto que não sai da gaveta. Recentemente a Warner Bros. anunciou o retorno
de Jaume, que havia se afastado, e também de acordo com o site Deadline, Dante
Harper (The Last Witch Hunter) será o roteirista. Além de Jaume e Garrett nomes
como Ken Watanabe e Kristen Stewart já estiveram ligados ao projeto.
No Brasil, o mangá de Akira começou a ser publicado em 1990
pela Editora Globo e foi cancelado em 1993 e retornando em 1997, com as últimas
5 edições restantes. O longa-metragem foi lançado nos cinemas brasileiros em
1992 e logo após ao mercado de VHS. Infelizmente no Brasil tudo que é animação
é tachado como desenho infantil e Akira foi parar nas prateleiras desta
categoria. Só no final da década de 1990 é que o filme foi para as telas da tv
aberta. A Band começou a exibir o filme no horário da noite após as 22:00 o que
fez muito sucesso, reprisando várias e várias vezes. Em 2008, em comemoração
aos 20 anos de seu lançamento, foi lançado em uma versão especial pela Focus
Filmes em uma embalagem de lata com duas versões 4:3 e 16:9 além de discos com
vários extras de produção. Akira já foi
lançado em Blu-ray mas não teve tanto sucesso, apenas críticas ruins.
Akira Blu-ray
Trailer feito por fãs
Fabien Dubois outro fã de Akira também fez um teaser trailer
em Live-Action.
Akira foi lançado em 1988 e é baseado no mangá que ainda
estava sendo escrito pelo mesmo Katsuhiro que deve ter queimando milhões de
neurônios para condensar uma história tão complexa e longa, de quase dez anos
(1982-1990) em aproximados 120 minutos, mas Otomo conseguiu. Juntamente com Izo
Hashimoto roteirizou e dirigiu o filme fazendo grandes cortes na trama central
do mangá para a versão das telonas. Mas isso não atrapalhou em nada a história
e os personagens.
Akira (Akira, Japão – 1988)
Direção: Katsuhiro
Ôtomo
Roteiro: Katsuhiro
Ôtomo e Izo Hashimoto
Elenco: Mitsuo
Iwata, Nozomo Sasaki, Mami Koyama, Tesshô Genda, Hiroshi Ohtake.
Duração: 120 min
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